segunda-feira, 24 de outubro de 2016

[fanfic #009] [capítulo #007] [U2] Ausência

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AVISOS:

  • História não recomendada para menores (temas adultos)
  • Contém sexo hétero e gay

AUSÊNCIA

CAPÍTULO 7

Houve um longo e constrangedor silêncio. Bono olhava para os tios de Iris, sem expressão alguma. Se esforçou para dizer algo a respeito, mas a única coisa que saiu foi:
— Que?
Edge começou a rir. Bono olhou para ele, atônito.
— Ok. – disse Edge – De onde diabos você tirou isso?
— Pergunte para ele. – disse Mary, apontando para Bono – Ele sabe muito bem.
Bono balançou a cabeça.
— Você ficou louca? Como é que eu poderia... Do que você está falando?
— Desculpem minha esposa. – disse James, parecendo muito constrangido, e puxando Mary para perto dele – Ela tem umas ideias um pouco fantasiosas.
— Que fantasiosas o que! – ela se soltou de James e voltou a encarar Bono – A mãe de Iris sempre foi "apaixonada" por essa sua banda, e especialmente por você. Ela esteve em um show seu pouco antes de se casar, e aí nove meses depois, nasce uma menina que não tem absolutamente nada a ver nem com ela nem com o pai, mas que é a cara do tal cantor de quem ela é "fã". Só sendo muito idiota mesmo para acreditar que a Iris é filha do Rick!
— Que ideia louca, mulher. – disse Bono, impaciente – Em primeiro lugar, eu acho que me lembraria de alguém que tivesse engravidado. Em segundo lugar, ela provavelmente teria me procurado. Em terceiro lug...
Mas de repente ele parou. Ficou olhando em silêncio para Mary, mas parecia estar em outro mundo. Edge olhou para ele, intrigado.
— Bono?
— Ahm? Oh. – ele voltou a si – Eu, ahm... Olha, essa história não faz absolutamente nenhum sentido. Nós viemos até aqui para que Iris não ficasse sozinha, mas como felizmente vocês foram localizados, é melhor nós irmos. Desejo melhoras para a sua sobrinha.
Ele saiu depressa dali, seguido por Edge, que ainda parecia um pouco confuso com sua reação. Os dois entraram no carro, e Bono saiu dirigindo em uma direção qualquer. Edge estava comentando sobre o quanto a tia de Iris era louca, quando percebeu que eles não estavam indo em direção ao hotel.
— Pra onde você está indo? – ele perguntou, mas Bono continuou em silêncio, como se sequer o tivesse ouvido – Bono? Ei, Bono!
— Ahm? – ele olhou para Edge – O que?
— Para onde estamos indo?
— Oh. Para...
Ele parou de falar e continuou a dirigir, o olhar fixo em um ponto qualquer à frente.
— Bono, pare o carro. Bono! – ele teve que sacudir o braço de Bono para que ele ouvisse – Acorda! Pare o carro.
Bono obedeceu de forma automática. Parou no acostamento, em um lugar provavelmente proibido, desligou o carro, e olhou para Edge.
— O que foi? Por que paramos?
— Como, "por que"? Você está completamente fora da realidade, ia acabar batendo o carro. O que aconteceu?
— Nada. – ele respondeu, depressa demais, e voltou a olhar para um ponto qualquer à frente.
— "Nada", não. O que houve?
— Nada!
— Bono...
— Eu... – ele estava tremendo – Não é nada. É só uma... Uma ideia idiota, só isso.
— Tem a ver com o que aquela louca falou?
Bono desviou o olhar. Edge olhou para ele, incrédulo, e começou a rir.
— Bono, pelo amor de deus, você não pode ter achado, nem por um segundo...
Mas Bono encostou a cabeça no banco do carro, fechou os olhos, passou a mão pelo rosto.
— O que está havendo? – disse Edge, começando a ficar preocupado.
— Eu acho que conheci a mãe da Iris.
— O... Que?
— Eu conheci... Droga. – ele começou a rir, sem humor algum – Eu não acredito que isso está acontecendo.
— O que está acontecendo?
— Eu acho... Acho... Talvez eu tenha conhecido a mãe da Iris. E não estou falando de... De um autógrafo antes de um show.
— Como assim? Como você teria conhecido ela? Quando?
— Eu reconheci ela quando a Iris me mostrou a foto, mas não sabia de onde. Agora tenho quase certeza de que ela era uma garota que eu conheci num show, num dos nossos primeiros shows aqui, e... Merda. – ele encostou a cabeça no volante – Isso não está acontecendo.
— Calma, pelo amor de Deus. Mesmo que você tenha conhecido ela, isso não significa nada.
— Você não está entendendo? Eu transei com ela! Transei com a mãe da garota com quem eu venho dormindo há semanas! E agora a tia dela disse...
— Oh, então vamos atrás de todas as mulheres com quem você transou, porque você provavelmente tem uns duzentos filhos espalhados por aí. Você ter transado com ela não significa nada.
— Olhe as coincidências! Eu transei com ela na véspera do casamento dela, e pelo que a louca falou, a Iris nasceu nove meses depois! E ela realmente parece comigo! – ele olhou para Edge, com uma expressão de total desespero – Não é impossível.
— Você não usou camisinha?
— Eu sei lá. Provavelmente não, mas não me lembro. Eu não usava sempre, naquela época.
— Olha, ok, vamos dizer que não seja impossível. E daí? Não prova nada. Você realmente acha que se houvesse a menor possibilidade de você ser pai da Iris, a mãe dela não teria entrado em contato com você?
— Eu sei, eu sei, é improvável, mas... – ele balançou a cabeça – Meu Deus, Edge, se...
— Não fale isso. Nem cite essa possibilidade. Esquece isso, ok? Você não é o pai da Iris. Esquece isso.
— Mas e se...
— Bono. – ele segurou o braço de Bono com força – Você não é o pai da Iris.
Bono engoliu em seco, balançou a cabeça.
— Sim. Claro. Desculpe, eu só... Só fiquei um pouco...
— Eu sei. É perturbador mesmo, você ter transado com a mãe e depois com a filha. Mas agora já foi. E graças a Deus, a Iris esqueceu de tudo. Para evitar problemas, vamos fingir que nada disso aconteceu, e torcer pra ela nunca se lembrar de nada, ok?
— ... Ok.
— Promete que não vai mais pensar nenhuma besteira sobre isso?
— Prometo.
— Ótimo.

* * * * *

Bono recebia centenas de cartas todos os anos, e obviamente não lia todas. Mas nunca jogava nenhuma fora, e quando as pilhas de envelopes começaram a ocupar todos os lugares de sua casa, ele decidiu organiza-las em um arquivo improvisado em seu escritório. O que, naquele momento, era uma benção.
Demorou apenas alguns minutos para encontrar as cartas catalogadas na letra T.
As primeiras cartas que Bono encontrou eram de Iris. Ele se surpreendeu por nunca ter imaginado que ela talvez houvesse enviado alguma coisa para ele. Havia dez cartas dela, algumas escritas há muitos anos, quando ela devia ser bem pequena. Ele deu uma olhada rápida por elas, mas todas eram o típico modelo de carta de fã, falando sobre o quanto ela o amava e o quanto gostava das músicas do U2.
E logo depois das cartas de Iris, estava a carta que ele procurava. Letícia M. Tyler. A mãe de Iris.
Havia apenas uma carta dela. Bono se surpreendeu ao ver que a data era recente. Recente demais. Letícia já devia ter morrido quando ele recebeu aquela carta.
Por um momento, ele achou que se tratasse da Letícia errada. Sentou-se no sofá e abriu o envelope.
A carta não começava com um clássico "querido Bono", nem nada parecido. Começava com Letícia contando que estava morta.

Se você está lendo essa carta, significa que eu estou morta.
Me desculpe, Bono. Eu deveria ter te mandado essa carta antes, há muito tempo atrás, mas nunca tive coragem. Nesse momento, enquanto escrevo, não paro de pensar que depois vou escrever outra carta para ser enviada hoje mesmo. Mas se você está lendo isso, foi porque eu não tive coragem, e alguma coisa aconteceu.
Eu não estou esperando morrer, mas acidentes acontecem, e eu preciso tomar essa precaução. Não posso correr o menor risco de que eu morra e leve tudo embora comigo. Essa não é a primeira carta que escrevo. Costumo reescrever essa carta de tempos em tempos.
Mas você não deve estar entendendo nada, não é?
Bom, vamos lá. Você me conheceu há quinze anos atrás. Duvido que você se lembre, mas eu era uma garota em um dos seus shows, muito antes de você ser famoso. Eu gostei de você e você gostou de mim. Nós tivemos uma noite divertida juntos, mas foi só, e logo depois eu me casei.
Eu tenho acompanhado você desde então. Cada passo seu. Me tornei uma fã, mas não apenas isso. Eu fui uma fã antes de você sonhar em ter fãs, eu me apaixonei pelo homem maravilhoso que você era quando você sequer sabia quem você realmente era. No dia em que ficamos juntos, eu te disse que tinha certeza de que vocês seriam grandes. Eu sentia essa grandeza dentro de você, mais forte do que qualquer outra coisa que eu já tinha sentido.
Eu tenho muito orgulho de quem você se tornou.
Eu poderia ficar aqui o dia inteiro, falando aquelas coisas que todos os fãs falam. Só que essa carta não é uma carta de fã, Bono. E eu espero que você a leia um dia, porque eu tenho uma coisa muito importante para te contar.
Nove meses depois de me casar, eu tive uma filha. Nove meses depois da noite que passamos juntos.
Eu não tenho a menor ideia de quem é o pai da minha filha, se é você ou meu marido.
Minha filha não se parece com ninguém da família, e eu a acho parecida com você, mas isso não significa nada. O que mais me chama a atenção nela são os olhos. Ela tem os seus olhos, Bono. Mas claro, isso também não quer dizer nada.
Eu queria ter te dito isso há muito tempo, mas nunca tive coragem. Sempre achei que você ia achar que eu era só uma fã louca tentando te dar um golpe.
Meu marido sabe sobre essa história toda. Foi difícil na época, mas depois ele entendeu e me perdoou. Ele nunca quis saber se era ou não o pai biológico da Iris – Iris é o nome da minha filha – e ele a ama independentemente de qualquer coisa. Eu não quero que você a assuma. Mas acho que você tem o direito de saber que talvez tenha uma filha. Ela vai fazer quinze anos mês que vem, e é uma menina linda. Ela não sabe que talvez seja sua filha, mas também é uma grande fã sua. Nós já fomos a muitos shows do U2, e você já a viu muitas vezes. Eu gostaria muito que um dia vocês se encontrassem sabendo de toda a verdade. Ela ficaria tão feliz.
Eu estou morta agora, e Rick, meu marido, deve estar sofrendo muito por isso, e cuidando sozinho da nossa filha. Eu te peço que não o procure por enquanto, pois não sei que reação ele teria. Porém, talvez ele tenha morrido comigo, afinal estamos sempre juntos. Se esse for o caso, você está livre para procurar a Iris quando quiser e contar toda a verdade a ela. Existem formas, hoje, de saber quem é o pai biológico de alguém. Fique à vontade para fazer qualquer teste que achar necessário, se a Iris estiver de acordo. Eu gostaria de ter tido coragem para ter feito esse teste, mas confesso que tive medo do resultado. Não sei se meu medo maior é descobrir que ela não é sua filha, ou que não é filha do Rick.
Espero que você não me odeie por ter escondido a verdade durante esse tempo todo. Queria ter sido um pouco mais corajosa.
Eu te amo, Bono. Te amei até o último momento.
Com amor, Letícia.

* * * * *

Quinze dias depois:

Iris estava sentada em um banco do parque, em um lugar escondido do resto do mundo, chorando.
Bono estava muito longe para que ela o visse, e ele se sentia um pouco culpado por invadir a privacidade dela dessa forma. Mas não conseguia parar de olhar. Ela parecia uma criancinha, sentada de lado no banco, as pernas abraçadas contra o peito, o rosto apoiado nos joelhos. Ele quase podia sentir os soluços dela, sua tristeza. Ainda não se recuperara da notícia da morte dos pais. Ou de ter perdido um ano da vida. Teria ela se lembrado de algo? Ele se recostou no banco do carro, com um longo suspiro.
Havia tanta coisa que podia fazer. Podia simplesmente ir lá e se sentar ao lado dela, como um ídolo que faz um agrado para um fã. Podia mostrar a carta que a mãe dela lhe escrevera, se oferecer para fazer um teste de DNA. Íris explodiria de felicidade se soubesse que existia a possibilidade de ser sua filha.
Mas o que diabos ele faria se a droga do teste desse positivo? Se descobrisse que andara transando com sua própria filha? Ele não sabia dizer, naquele momento, se era melhor conviver com a dúvida ou com a certeza. Podia simplesmente ignorar aquilo tudo, se convencer de que era impossível que ela fosse sua filha, e seguir adiante com sua vida. Se um dia Iris se lembrasse do que acontecera, e se fosse procura-lo... Bom, ele lidaria com aquilo.
Sim, ele lidaria com aquilo. Aquela história toda era uma loucura, afinal de contas. Ela não era sua filha. Aquilo era um total absurdo.

* * * * *

Três meses depois

Eles estavam no estúdio, ensaiando uma nova música. Bono estava sentado ao lado de Edge, Adam e Larry, rindo de algo que um deles dissera, quando seu celular tocou. Atendeu distraidamente, mas conforme a pessoa do outro lado da linha falava, ele ficava cada vez mais sério. Seu rosto assumiu uma palidez preocupante.
— O que houve? – Edge perguntou, quando ele desligou.
Bono olhou para ele, hesitando, e então se levantou.
— Desculpem, eu preciso ir. Eu... Houve um problema. Continuem sem mim.
— Algo sério? – disse Larry, também preocupado.
— Não, não... Mas precisam de mim em outro lugar. Não se preocupem, não é nada importante.
Ele saiu quase correndo, mas quando chegou ao estacionamento, Edge o alcançou.
— Bono, espera. – ele o segurou – O que houve? Você nos deixou preocupados.
— Nada. – ele hesitou novamente, e olhou em volta – A Iris sumiu.
— O que? Como assim?
— Ela não voltou da escola hoje. Foi vista entrando em um carro com um homem desconhecido, pouco depois do fim da aula, e não apareceu mais. Ninguém sabe onde ela está. O detetive acredita que ela foi sequestrada.
— Detet... – ele parou – Você está brincando.
— Sim, eu coloquei um detetive atrás dela, ok? Só pra... Ter certeza de que ela estava bem. E graças a isso eu tenho chance de encontrá-la. Eu tenho que ir.
— Mas você tem ideia de onde ela pode estar?
— Sim. – ele foi em direção ao carro – Só espero que ela esteja bem.

* * * * *

Enquanto isso, Iris não estava nada bem.
Estava com as mãos amarradas atrás das costas, as pernas firmemente presas por cordas, e a boca tapada por fita adesiva. O homem estranho que a sequestrara estava conversando com outros homens estranhos do lado de fora do quarto onde a deixara. Ela se contorcia e tentava se soltar, quase caindo da cama em que estava deitada, mas era inútil.
Quando o homem finalmente entrou no quarto, fechando a porta atrás de si, ela se encolheu. Ele a olhou com um sorriso assustador.
— Iris, Iris, querida. – ele se sentou ao lado dela na cama, e passou a mão por sua perna – Que trabalho você me deu. Eu demorei pra te achar.
Ela não tinha a menor ideia do que ele estava falando. Nunca vira aquele homem na vida. Mas já dissera aquilo dezenas de vezes, antes de ele tampar sua boca com fita adesiva, e fora inútil.
— Vamos, chega desse joguinho. – ele disse, ficando muito sério, o que era ainda mais assustador – Onde está o meu dinheiro?
Iris arregalou os olhos e sacudiu a cabeça. Do que ele estava falando? Que dinheiro?
Como se lesse seus pensamentos, ele disse:
— Sua dívida hoje está em quinze mil dólares, meu amor. – ela quase engasgou – Você pode me pagar isso agora, e nós dois saímos daqui muito felizes. Ou você pode voltar a trabalhar para mim, até pagar o que me deve. Ou... – ele se inclinou e tocou no rosto dela, segurando-a com um excesso de delicadeza – Eu posso quebrar esse seu pescocinho lindo e te jogar no rio, pra mostrar pra todo mundo o que acontece com quem não paga o que me deve.
Lágrimas brotaram nos olhos dela, e ela tentou se afastar, mas ele a agarrou dolorosamente pelos cabelos e a puxou para si, até seus rostos quase se tocarem.
— Eu sei que você não tem quinze mil dólares. Então, acho que você só tem duas opções. O que vai ser?
Ela murmurou contra a fita adesiva, tentando falar. Ele suspirou e arrancou a fita de sua boca. Iris deu um gritinho de dor, e respirou, aliviada.
— Eu não sei do que você está falando. – ela disse muito rápido, com medo de que ele tapasse sua boca novamente – Eu sofri um acidente há alguns meses e perdi parte da memória. Não tenho a menor ideia de quem é você, ou de porquê te devo dinheiro, nem sei de que trabalho está falando. Pelo amor de deus, não me mate. – sua voz se elevava, ela começava a ficar histérica – Eu faço qualquer coisa, por favor. Por favor!
Ele a observou atentamente, enquanto ela continuava a repetir “por favor” sem parar, aos prantos. Por fim, disse:
— Eu não estou nem aí se você está falando a verdade ou não. O único jeito de você não morrer é pagando o que me deve ou trabalhando para mim.
— Trabalhando com o que? Eu não sei fazer nada, sou só uma estudante do ensino médio!
O homem riu alto.
— A única coisa que você vai ter que fazer nesse emprego é abrir as pernas, querida. Não precisa de dom para isso. Se bem que, pelo que eu soube, esse dom você tem. – ele segurou o rosto dela novamente, e seus olhos tinham um brilho assustador – Você era a rainha do puteiro, me deu um lucro e tanto. Tenho certeza de que pode fazer tanto sucesso quanto antes.
Iris ficou olhando para ele, sem entender.
— Você está dizendo que eu...? – ela não conseguiu concluir a pergunta – Você está mentindo.
Ele riu de novo, e se levantou da cama.
— Você realmente não se lembra? – ele parecia estar achando aquilo divertidíssimo – Isso é fantástico! Você acha que ainda é uma menininha virgem? Você trabalhou como puta pra mim na Europa, minha querida, até resolver fugir. Eu tive trabalho pra te encontrar e não vou cometer o mesmo erro novamente. – ele a segurou novamente pelos cabelos, fazendo ela gritar – Não vou tirar os olhos de você.
Nessa hora bateram na porta, e ele soltou Iris com impaciência. Foi até a porta e trocou palavras breves com o homem do outro lado.
— Eu preciso sair. – ele disse, voltando-se para Iris – Mas vou voltar logo. É bom ficar bem quietinha. Se alguém disser que você gritou, quando eu voltar eu corto sua língua.
Pelo seu tom, Iris não duvidou por nenhum momento que ele estivesse falando sério. O homem saiu e trancou a porta, deixando Iris presa no quarto.

* * * * *

Sem querer, Iris dormira. Quando acordou, demorou um pouco para se localizar. Não sabia quanto tempo havia se passado. Seu sequestrador estava bem à sua frente, olhando para ela. Quando o viu, ela se encolheu, aterrorizada.
— Eu trouxe comida. – ele indicou vagamente uma mesa ao lado, e Iris viu uma embalagem de viagem do McDonald’s e refrigerante. Percebeu nesse momento que estava morrendo de fome e de sede – Eu te deixo comer, se você for uma menina boazinha.
Ela não tinha certeza do que ele queria dizer com ser uma menina boazinha, então apenas balançou a cabeça, concordando. Só queria sair dali. Queria que aquele sonho ruim e estranho acabasse. Tinha certeza de que tudo o que aquele homem falara sobre ela era mentira. Não era possível que qualquer coisa daquilo realmente tivesse acontecido.
O homem se aproximou dela com uma faca nas mãos, e ela se encolheu.
— Eu vou te soltar. – ele disse – Se você pensar em tentar fugir, ou fizer qualquer idiotice, eu corto seu pescoço. Entendeu?
Novamente, ela apenas balançou a cabeça. Ele se inclinou para ela e cortou as cordas que prendiam seus tornozelos. Em seguida, cortou as cordas de seus pulsos. Iris suspirou, aliviada, e esfregou os braços e as pernas, recuperando a circulação. Todo o seu corpo doía.
Mas antes que pudesse começar a se sentir melhor, o homem se aproximou novamente. Iris não era uma garota experiente – não que se lembrasse – e nunca passara por uma situação parecida. Mas assim que olhou para ele, ela sabia o que significava aquele olhar, aquela expressão. Seu instinto lhe dizia, e ela não gostava nem um pouco daquilo.
Aquele homem a olhava como se quisesse devorá-la.
Quando ela tentou se afastar, ele a segurou firmemente pelos cabelos.
— O que eu te disse sobre fugir? – ele encostou a faca no pescoço dela – Não me obrigue a te matar antes de te comer, meu anjo. – ela se encolheu, e ele sorriu diante do olhar de pavor submisso dela – Eu mereço provar essa coisinha linda pelo menos uma vez, não é mesmo?
Ele avançou para cima dela, e ela queria gritar, mas o pavor lhe travava a garganta.

* * * * *

Algumas horas depois

Quando Bono estacionou em frente à casa, o que se desenrolava ali era um caos total.
Pelo menos oito carros de polícia estavam parados na rua, com as sirenes ligadas, e havia um número igualmente grande de ambulâncias. Pessoas de uniforme andavam apressadas de um lado para o outro. Uma pequena multidão de curiosos tentava enxergar o que estava acontecendo, atrás do cordão de isolamento.
Não havia a menor possibilidade de que ele fosse conseguir aparecer ali sem ser notado, então continuou no carro, e logo um dos homens que estava trabalhando para ele entrou, sentando-se no banco do carona.
— Encontraram ela? – foi a primeira coisa que Bono perguntou, sem preocupar em esconder a ansiedade na voz.
— Não. – o detetive disse, após um instante de hesitação – Ninguém sabe o que aconteceu aqui, mas ela sumiu. Quando a polícia chegou, só havia cinco corpos na casa, todos de homens pertencentes a uma quadrilha que faz tráfico de mulheres. A maioria deles foi baleada, mas um deles foi esfaqueado dezenas de vezes. Tem sangue pela casa toda, parece um filme de terror.
Aquilo não era o que Bono esperava, e ele ficou olhando para o homem, boquiaberto.
— E a Iris...
— Desapareceu como fumaça. Mas eles acreditam que ela esteve na casa. Havia cordas e algemas em um dos quartos, indicando que uma pessoa tinha sido mantida presa. Mas não sabem ainda o que aconteceu, para onde ela foi, ou quem matou essas pessoas. Pode ter havido um confronto entre gangues, e o lado vencedor pode ter levado ela embora.
— E vocês não viram nada?
— Não chegamos a tempo. Quando chegamos aqui, todos estavam mortos. A única coisa que pudemos fazer foi chamar a polícia.

* * * * *

Aquilo parecia um pesadelo sem fim. Enquanto dirigia sozinho pela estrada, em direção ao hotel em que passaria a noite, Bono se perguntava se um dia voltaria a ter alguma paz. A única coisa que queria era que, de uma forma ou de outra, Iris estivesse viva. Viva, bem, e que fosse encontrada. Apenas isso, e era isso que repetia em uma oração ininterrupta.
Até que viu algo que o fez parar o carro, numa freada brusca.
Bem à sua frente, no meio da estrada deserta e escura, uma menina caminhava sozinha. Por um momento ele achou que estivesse tendo alucinações, mas logo se convenceu que era bem real. Era Iris, à sua frente.
— Iris! – ele chamou, saindo do carro – Iris!
Ela se voltou, assustada. Os faróis do carro a iluminavam. Havia manchas vermelhas no rosto dela, nos braços, na blusa. Manchas que se pareciam assustadoramente com sangue. Ela abriu a boca quando o viu, incrédula.
— Bono!?
Ele foi depressa até ela e a abraçou, sentindo-se aliviado. A apertou com força contra si, sem se importar com o sangue ainda úmido no corpo dela.
— A polícia está te procurando. – ele disse – Está todo mundo louco atrás de você. Nós...
— Não me leve pra polícia! – ela disse, em desespero – Por favor, por favor, não me leve pra eles, nem pros meus tios, por favor...
Aquele desespero dela o surpreendeu, mas ele apenas balançou a cabeça, concordando.
— Ok, ok, nada de polícia, nada de tios. Mas você não pode ficar vagando desse jeito pela estrada, é muito perigoso. Tem algum lugar para onde você quer ir?
— Não. – ela balançou a cabeça – Não sei para onde ir, não sei o que fazer.
— Venha comigo, então. Eu estou sozinho em um hotel perto daqui. Ninguém vai saber que você está lá. Você pode ficar lá comigo pelo tempo que precisar.
Ela não hesitou nem por um segundo. Pelo contrário, pareceu maravilhada com aquela possibilidade.
— Ok. – ela disse, com firmeza – Me leve com você.

* * * * *

Ela passou a noite e metade da manhã em silêncio, perdida dentro de seus próprios pensamentos. Bono conseguiu roupas limpas para ela, que ela vestiu depois de tomar um longo banho, para tirar o sangue de seu corpo. Ele fizera algumas perguntas, mas ela se recusara a responder, e ele não insistiu. Deixou que ela dormisse na única cama do quarto, enquanto ele se acomodou no pequeno sofá. O sono dela foi quieto, profundo, mas ele não conseguiu fechar os olhos a noite inteira.
Somente no dia seguinte, Iris falou sobre o que acontecera.
Eles haviam acabado de tomar o café da manhã, no quarto. Antes que Bono pudesse pensar em como tentar fazê-la falar, ela disse:
— Eu matei eles.
Ele parou e olhou para ela. Em um primeiro momento, não entendeu do que ela estava falando. Quando entendeu, preferiu que não tivesse entendido.
— Como assim? – ele disse, em um tom cauteloso.
— Aquele homem. O chefe deles, acho. Ele tentou me agarrar à força. Quando ele tentou tirar minha roupa, eu peguei a faca e pulei em cima dele. A faca atravessou a garganta dele. – ela segurou o próprio pescoço, inconscientemente – Eu tinha medo de que ele viesse pra cima de mim mesmo assim, então esfaqueei ele de novo e de novo, até que ele parasse de se mexer. Aí eu peguei a arma dele e saí do quarto. Os outros estavam na sala. Eu atirei antes que me vissem. Eles atiraram em mim, mas erraram. Quando dei por mim, todos eles estavam mortos, e eu só estava ali, parada, no meio deles. Então eu saí.
Ela não parecia triste ou emocionada ao dizer aquilo, apenas confusa. Bono foi até ela e a abraçou com força contra si. Sentia que estava mais abalado por aquilo do que ela.
— Por que tudo isso acontece comigo? – ela disse – Primeiro eu perco a memória, aí eu descubro que meus pais morreram, e agora isso. Por que isso acontece comigo?
— Vai ficar tudo bem. – ele disse, suavemente, e desejando ardentemente acreditar naquilo – Tudo isso vai passar, e você vai ficar bem. Vai dar tudo certo.
Ela se afastou, colocando a mão no peito dele e o empurrando levemente. Olhou para ele, e havia algo novo em seu olhar, um medo diferente.
— Aquele homem me disse coisas. – ela disse – Ele me disse que eu fugi de casa, e que devia dinheiro a ele. Disse que eu trabalhei para ele como prostituta.
Bono ficou olhando para ela, sem saber o que dizer. Sem saber se a melhor saída era mentir ou contar a verdade, ou simplesmente fingir que não sabia nada sobre aquilo.
— Eu não me lembro de nada. – ela voltou a olhar para a frente, na direção da televisão desligada – Mas você estava do meu lado quando eu acordei. Você veio atrás de mim e me encontrou na estrada. E você me trouxe pra cá. Você não é só o cantor que eu gosto, não é mesmo? Alguma coisa aconteceu, alguma coisa aconteceu comigo, e de alguma forma você sabe, ou... Ou estava por perto, e se envolveu. Você sabe de algo que aconteceu comigo. O que é? – ele se manteve em silêncio, e ela olhou novamente para ele, emoção surgindo em sua voz – O que aquele homem falou é verdade? O que aconteceu comigo? E por que você veio atrás de mim?
Ela estava tão linda. Tão assustada, e tão frágil, e tão absolutamente linda. Ele queria abraça-la e protege-la, e fazer tudo aquilo simplesmente deixar de existir – todos os traumas dela, todas as coisas horríveis, e toda aquela história absurda de que ela talvez fosse sua filha. Fazer tudo desaparecer, até que restassem só os dois ali, nos braços um do outro.
Mas mal ele pensara isso, e ela se levantou do sofá bruscamente. Havia lágrimas em seus olhos quando ela falou:
— Pare de me olhar assim! Pare de me olhar como se tivesse pena de mim! – ela soava com raiva e angustiada – Eu odeio que me olhe assim! Você está escondendo algo de mim, e eu quero saber o que é!
Em apenas mais um segundo, Bono se decidira. A puxou pelo braço, fazendo-a se sentar novamente, e disse:
— Coisas ruins aconteceram com você. E foi por isso que nos conhecemos.
— Que coisas? O que aquele homem disse era verdade?
— Sim. – ela tapou a boca com a mão, seus olhos se encheram de lágrimas, mas Bono apenas continuou – Você fugiu de casa, e pediu ajuda para esse homem. Mas ele era um criminoso, como você viu, e te obrigou a trabalhar para ele como prostituta. Você trabalhou em um bordel durante alguns meses, até fugir.
Iris ficou olhando para ele, em choque. Mas, apesar dos olhos marejados, ela não chorou, nem entrou em desespero. Ficou apenas olhando para Bono.
— Eu não consigo acreditar. – ela disse, após um longo tempo – Isso parece um pesadelo. Não consigo acreditar que tantas coisas absurdas tenham acontecido. Por que eu fugiria de casa? Por que eu pediria ajuda para uma pessoa que nem conheço?
— Eu não sei. Talvez você só estivesse desesperada, e não tenha pensado direito. Tudo o que eu sei é que você estava passando por problemas com seus tios.
— Problemas? Meus tios são as melhores pessoas do mundo. Digo, eles têm seus problemas, mas... Eles têm sido meu apoio desde que esse pesadelo louco começou.
— Bom, você tinha me dito que seus tios te odiavam e que você não suportava mais ficar com eles.
O que? – ela parecia não acreditar – Mas por que... Por que eu diria isso? – ela balançou a cabeça – Quando você fala, parece que está falando de outra pessoa, não de mim. Não me vejo falando ou fazendo nada disso.
— Eu não sei. Talvez tenham acontecido coisas que você não se lembra, coisas que fizeram você... Se tornar uma pessoa um pouco diferente do que era antes. E do que é hoje. A morte dos seus pais talvez tenha te levado a isso.
— Mas... Mas... E você? Onde você entra nisso? Como foi que nos conhecemos?
Ele pensou um pouco. Não queria contar muitos detalhes sobre aquilo. Era melhor lhe contar aos poucos, medir sua reação.
— Nos conhecemos por acaso, quando você ainda era prostituta. Eu te ajudei quando você fugiu, te trouxe comigo de volta para os Estados Unidos.
Ela ficou olhando para ele, esperando que ele dissesse mais, mas ele se calou. Ela insistiu:
— Mas por que você quis me ajudar? E o que... – ela hesitou, como se não soubesse exatamente o que perguntar – Eu quero que você me conte tudo, cada palavra que eu disse, em que situação nos conhecemos, tudo.
— Eu acho que não é uma boa ideia.
Por que? É da minha vida que estamos falando! Eu tenho o direito de saber o que aconteceu comigo!
— Claro que tem, mas... – ele suspirou – Eu não quero que me odeie de novo.
— O que? – o tom de voz dela diminuiu, e ao invés de agressivo, se tornou apenas confuso – Você é o ídolo da minha vida toda. Por que eu te odiaria?
— Porque, Iris, a gente... Eu... – ele suspirou – Durante esse tempo em que nos conhecemos, eu me tornei mais do que... Mais do que um ídolo pra você. Nós... – ele procurava as palavras – Nós nos envolvemos. Romanticamente.
— Que!?
— Nós... – a expressão dela estava fazendo ele se arrepender de ter dito aquilo – Nós tivemos uma espécie de... Relacionamento. Foi por isso que...
— Para. Para tudo. – ela se levantou do sofá e se afastou, apontando para ele de forma acusadora – Você transou comigo? – ele abriu a boca para responder, mas ela o interrompeu – Mas você é casado! E eu, eu... Sim, eu sempre gostei de você, mas eu só tenho quinze anos! Você, justo você... Eu não acredito nisso. – ela se deixou cair na cadeira – Passei minha vida idolatrando um pedófilo.
— Não! – ele se levantou e foi até ela, segurou suas mãos – Não foi assim! Quando eu te conheci, você me disse que tinha dezoito anos. E eu...
— Oh claro, porque dezoito anos é uma super adulta, levando-se em conta que você tem trinta e seis!
— Mas você era prostituta! Eu não tinha nem ideia de quem você era de verdade. Eu... Eu achei que você fosse muito mais madura, muito mais experiente. Me senti péssimo quando descobri a verdade. Eu sinto muito, Íris.
— Sente muito. – ela balançou a cabeça – Você deixou de sair comigo quando descobriu que eu só tinha quinze anos?
— ... Não. Na verdade, foi aí que nosso envolvimento de fato começou.
— Então você não sente muito! Como você pôde? Eu não sei o que aconteceu comigo, não sei quem eu era quando você me conheceu, mas saiba que eu não sou assim. Eu amo você sim, eu passei minha vida sonhando em casar com você... Mas isso não significa que eu ache ok um cara da sua idade...
Ela suspirou, exasperada. Aquela não era a reação que ele esperava, definitivamente. Esperava que ela se emocionasse, que ficasse abalada, talvez que pulasse nos braços dele. Mas não aquela censura, aquela desaprovação. Seria possível que ela tivesse mudado tanto durante aquele período que ela esquecera?
Ou talvez não tenha mudado tanto assim, ele pensou. Lembrou-se do quanto ela hesitara em se relacionar com ele, do quanto se decepcionara ao descobrir que ele contratava prostitutas. Do quanto demorara para ir para a cama com ele. Bono sempre pensara que isso fosse alguma espécie de jogo da parte dela, ou um receio causado pelo trauma de ter sido obrigada a se prostituir, mas talvez não fosse. Talvez ela sempre tenha achado um absurdo se envolver com um homem tão mais velho. Talvez ela só tenha aceitado aquilo porque estava fragilizada demais. E isso tornava o que ele havia feito pior ainda: ele se aproveitara dessa fragilidade dela para torna-la sua amante.
— Eu realmente sinto muito. – ele disse, em voz baixa – Eu me apaixonei por você, e eu sei o quanto isso é errado. Eu devia ter sido responsável, te levado de volta para casa, mas ao invés disso eu só quis te ter comigo, sem me importar com o que era certo ou errado, sem me importar com o que seria bom pra você. E o pior é que eu ainda te amo, Iris. A verdade é que, se você me desse a menor chance, eu ficaria com você de novo. Eu sinto muito.
A expressão de Iris mudou um pouco, suavizou-se. Ela baixou a cabeça, e seu rosto ficou um pouco vermelho.
— Eu gosto muito de você. Não quis dizer que não... Eu só acho errado, porque você é muito mais velho. Eu esperava outra atitude de você.
— Você espera demais de mim. Eu não sou a pessoa perfeita que você pensa que eu sou.
Os dois ficaram algum tempo em silêncio. E então Iris perguntou:
— O que aconteceu no dia do meu acidente? Você estava comigo?
— Não. Nós havíamos tido uma... Briga, naquele dia. Você... Você descobriu que eu tinha outra pessoa. Você me pegou no flagra com essa pessoa, na verdade. E ficou muito chocada e triste, o que é óbvio, e saiu correndo pela rua. Eu não vi para onde você foi. Quando te encontrei, você tinha sido atropelada e estava sendo atendida pela ambulância. Imagino que tenha ficado transtornada e nem viu que estava atravessando a rua.
— Então, você tinha outras amantes além de mim. Eu não era a única.
— Não. – ele ficou vermelho ao se lembrar da situação em que se encontrava quando Iris o vira com Edge – Sinto muito.
Ela apenas balançou a cabeça, parecendo muito triste. Então se levantou.
— Você pode me levar até a delegacia? Eu quero contar para a polícia o que aconteceu ontem, naquela casa.
— Sim. – ele se levantou também – Claro.
— E você pode... Me dar o número do seu telefone?
— Meu telefone?
— Sim. Eu gostaria de... Poder conversar com você, de vez em quando. – ela cruzou os braços, de forma protetora – Mesmo com tudo o que aconteceu, conversar com você faz eu me sentir bem. Talvez... Talvez parte de mim lembre de como era bom ficar ao seu lado. Como era bom gostar de você, e saber que você também gostava de mim.
— ... Iris. – ele tentou abraça-la, mas ela deu um passo para trás.
— Não. Não me toque, por favor.
— ... Desculpe.
— Tudo bem.
Ela foi em direção à porta. Antes de a seguir, Bono foi até a cama e pegou a única bolsa que trouxera consigo. Nesse momento, viu, sobre a cama, a escova que Iris usara naquela manhã para pentear os cabelos. Longos fios negros haviam ficado presos ali. Em um impulso, ele pegou a escova e a guardou num bolso vazio de sua mala, sem que a menina visse. Fechou a bolsa, sentindo o coração bater muito forte, e seguiu Iris para fora do hotel.